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10 de outubro de 2013

"O segundo nada mais é do que o primeiro dos perdedores" - será??

Todo mundo quer evoluir - seja lá no que se propôs a fazer. Ganhar é sensacional, vencer etapas, ver o esforço render frutos. Só que o pulo do gato não é como vencer, como "chegar lá": é fazer isso sem perder a noção de quem se é e do que importa. A medida do que vale na vida nem sempre é a vitória e nem sempre a chegada conta mais, e sim o trajeto, o caminho. 

E então temos hoje o privilégio de trazer aqui as palavras sensatíssimas do Marcos Pópolo, que é músico, compositor e empresário (proprietário de uma escola de música aqui em Bauru) e marido e incentivador da nossa parceira de corrida e de caminhadas pela vida, a Lena.

Boa leitura!

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"O segundo nada mais é do que o primeiro dos perdedores"

Essa frase atribuída ao piloto Ayrton Senna é comumente usada em palestras motivacionais nos diferentes segmentos do trabalho ou esporte.

Dentro de uma corrida, há regras claras e um só objetivo: superar os adversários e vencer!
Ayrton era um piloto de F1 e seu objetivo era vencer. Por inúmeras vezes cumpriu bem esse papel. 

Essa é a regra das pistas! É também a regra dos concursos, vestibulares, eleições... Com a diferença que o número de ganhadores varia de acordo com os prêmios disponíveis. Por exemplo, se alguém presta um concurso com 20 vagas, mesmo ele ficando em vigésimo ainda assim será um vitorioso. Mas se ele for entrar numa eleição para prefeito e vencer, ele poderá dizer que os demais colocados são perdedores.

Sim, essas são as regras e valores nas competições!

Mas não são as regras e reais valores da vida, como muitas vezes muitos querem que nós acreditemos!

A vida não precisa ser assim! Não precisa ter um único ou poucos vencedores... Ou melhor, não precisa ter vencedores deste tipo.

Não precisamos competir com nosso vizinho ou com nossos amigos (ou inimigos) ou ainda com nossos familiares. Como professor de música, já vi muitas e muitas vezes pais incomodados e com medo que seus filhos os superem. O espírito de competição entre nós existe, e dependendo de como é alimentado, o resultado não é bom.

Acredito que as superações devem ser internas e não o contrário. Na vida nosso objetivo deve ser superar a nós mesmos e não aos outros, porque a vida não é um esporte ou um concurso. No entanto, querem que acreditemos que somente superando os outros é que seremos vencedores.

Algumas pessoas passam em concursos difíceis e conquistam ótimos salários, mas ainda assim não se sentem felizes. Como foram apenas preparadas e treinadas para terem um objetivo de superar o outro, quando alcançam uma fase dessas, precisam logo arrumar outra. Precisam de mais competições e adversários... Daí um indivíduo desses começa a olhar para o carro do amigo, para a roupa, para a casa. Ele precisa superar o próximo. Quando consegue se sente bem por uns pequenos momentos, mas logo o vazio volta, porque o objetivo se foi... Às vezes até um sorriso mais feliz de um amigo o incomoda: “O que ele tem que eu não tenho?”




A foto que compartilho traz a atleta suíça Gabrielle Andersen na maratona de 1984. Se você tem menos de 35 anos não viveu esse momento, mas quem sabe já ouviu falar dela.

Durante a prova Gabrielle, com 39 anos na época, começou a sofrer com o forte calor e seu corpo desidratou. Ela então passou a ter fortes câimbras nas pernas, o que a deixou totalmente desorientada. Para ela a corrida em si já tinha terminado faz tempo. Os primeiros colocados já haviam completado a prova tempos antes. Não havia chance de medalha ou pódio ou qualquer coisa do tipo. Mas a moça não abandonava a prova! Desafiava a lógica da competição. Muitos olhavam aquilo e não entendiam a razão do esforço descomunal que a atleta fazia para tentar terminar a prova... Foi emocionante, sofrido! E sim, ela terminou! Logo em seguida caiu desmaiada no colo da equipe médica que a seguia nos últimos instantes da corrida.

Gabrielle Andersen nunca mais saiu de minha mente! E também da maioria das pessoas daquela época.

E sabe por quê? Porque ela demonstrou ao mundo todo aquele dia que ela não estava competindo com ninguém. Estava apenas dando o melhor de si mesma! A sua luta era interna! As regras da corrida não valiam nada para ela! Ela esnobou a regra como um neto que ri da bronca da avó.

Gabrielle Andersen entrou para a história porque perdeu uma corrida! Em contrapartida ganhou a admiração do mundo inteiro! Ela já sabia que a vida não é uma competição. Ela estava lá, porque às vezes somos obrigados a entrar no esquema! Precisamos estudar, passar nos vestibulares, concursos... Não nos dão muitas opções na verdade. Então se tivermos que fazer isso, que façamos por nosso próprio crescimento! E que o resultado seja sempre a satisfação de que fizemos o nosso melhor. Se não der pra vencer a competição, sejamos vencedores porque tentamos, fomos até aonde e como podíamos. E não é necessário participar de competições para isso! Muitas vezes precisamos dar o nosso melhor dentro de casa, no trabalho, com a família!

Um pai não precisa ser o melhor pai do mundo e ganhar um troféu na TV para que todos vejam. Um simples “eu te amo” sincero de um filho pode ser a maior das recompensas!
E se alguém ainda achar que o que vale de fato é quem vence a corrida, eu deixo a pergunta: Você se lembra dela! Mas me diga e responda rápido, quem foi mesmo que ganhou a maratona feminina das olimpíadas de Los Angeles de 1984?

Contra tudo que nos ensinam, somos muito mais do que nós mesmos imaginamos!

Um comentário:

André disse...

Eu conversando com Alexandre, seis anos, essa semana:
- Ah, Alê, se você tá perdendo sempre, você tem que melhorar.
- Mas papai, o importante não é ganhar, é eu fazer o meu melhor.
- É... isso é verdade. E quem te falou isso?
- Aprendi num desenho.